ADAPTAÇÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SANTANA, Jonas Klébio Landim*
Universidade Regional do Cariri



RESUMO

Este trabalho aborda temas de elevada importância no processo de socialização da criança, levanta questões básicas no contexto da convivência e adaptação na escola e da interação inicial entre professores e alunos, tem como objetivo principal, discutir e esclarecer os problemas enfrentados pelas crianças no contexto do convívio social, tendo em vista as dificuldades apresentadas por elas nesse período e a importante participação dos pais e professores nesta etapa evolutiva do processo do desenvolvimento infantil.

Palavras-chave: adaptação, interação, escola, criança, professores, socialização.


ABSTRACT

This paper discusses issues of high importance in the process of socialization of the child, raises basic questions in the context of coexistence and adaptation in school and the initial interaction between teachers and students, has as its main objective, discuss and explain the problems faced by children in the context of social coexistence in view the difficulties faced by some children in that period and the important participation of parents and teachers in this evolutionary stage of the process of child development.

Keywords: adjustment, interaction, school, children, teachers, socialization.


01. INTRODUÇÂO

Desde o nascimento até a fase adulta a criança passa por diversas experiências de desprendimento e separação, exemplos dessas diversas experiências são: quando ela é separada do útero da mãe no nascimento e também no momento de separação do seio materno. De todas essas etapas, uma separação de relevada importância para o desenvolvimento social da criança, é quando ela atinge a idade escolar e precisa freqüentar a escola. Os primeiros dias de aula estão quase sempre acompanhados de certa insegurança tanto dos pais quanto da criança, esse processo de separação apesar de necessário pode ser doloroso para ambos. Ao se depararem com um ambiente completamente novo e afastado de seus tutores, muitas crianças respondem com o choro, alguns pais reagem com sentimentalismo e interferem no processo de adaptação, provocando um atraso e dificuldade na socialização da criança. Esse sentimentalismo dos pais corresponde erro nos métodos de educação, muitas vezes eles erram em não permitir a independência de seu filho e acabam, sem querer, dificultando sua socialização. Fatos como esses podem repetir-se por toda à vida da criança tornando-se prejudicial para seu desenvolvimento.
Insegurança e medo em vivenciar um novo ambiente em que seus familiares não estarão presentes, constituem um forte aspecto de rejeição do espaço e das pessoas presentes na escola, à criança deve ser compreendida para posteriormente receber o tratamento adequado em casa e na escola.
Para enfrentar essa fase de adaptação, as crianças requerem um período de adaptação, que deve ser satisfatório para elas. Os professores e coordenadores da escola precisam elaborar estratégias que facilitem a convivência delas com o seu novo espaço, principalmente nos primeiros dias de aula, levando em consideração as dificuldades e problemas enfrentados por cada um.
O trabalho apresentado a seguir levanta questões baseados nesta problemática partindo do pressuposto de que é através do acompanhamento desta etapa do desenvolvimento e conseqüente superação desta fase que a criança passa a desenvolver confiança mútua pelos professores e colegas facilitando sua convivência social e o processo de ensino aprendizagem, o que evitará inúmeros problemas na alfabetização e desenvolvimento escolar.


02. DESPRENDIMENTO FAMILIAR

Nos primeiros anos de vida a criança desenvolve um vínculo afetivo construído dentro do ambiente familiar, isso porque são os seus pais que lhe transmitem confiança, segurança e conforto, durante esse período, ¨A partir de um ano, mais ou menos, encontra em sua mãe uma base de segurança para explorar o mundo circundante¨. (ZLOTOWICZ, 1976, p.44). Elas se sentem inseguras sempre que ficam distante dos pais, isso ocorre principalmente com crianças que passam muito tempo convivendo unicamente com eles, ao se separar ou ausentar-se temporariamente desse ambiente afetivo a criança estranha e passa a rejeitar. O medo da separação é um fenômeno comum em crianças pequenas, porém, em alguns casos esse medo excessivo pode causar uma ansiedade patológica, denominada; transtorno de ansiedade de separação, que pode apresentar conseqüências, como: tornar a criança incapaz de permanecer no quarto sozinha, andar sempre em companhia dos pais, manifestar fobia escolar e causar sofrimento com a possibilidade de ficar sozinha. Diante de um problema como esse, os pais devem procurar a ajuda de um psicólogo, pois muitas vezes por não compreender os motivos reais do medo de seu filho eles acabam tomando atitudes inadequadas como tentar forçar a criança fazer algo que lhe provoque medo tentando com isso forçar a criança superar o medo. Agindo assim os pais podem transformando um simples medo, numa fobia ou trauma psicológico.
O referencial curricular nacional para a educação infantil, do Ministério de Educação e do Desporto enfatiza a relação de afeto criada entre a criança e a pessoa que cuida dela.
Entre o bebê e as pessoas que cuidam, interagem e brincam com ele se estabelece uma forte relação afetiva (a qual envolve sentimentos complexos e contraditórios como amor, carinho, encantamento, raiva, culpa etc.). Essas pessoas não apenas cuidam da criança, mas também medeiam seus contatos com o mundo, atuando com ela, organizando e interpretando para ela esse mundo. (MEC/SEF , 1998, p. 17)

A família é o primeiro instrumento de mediação entre a casa e a escola, são os país quem levam os filhos para escola e são eles que devem passar a confiança necessária à boa relação de convivência com as outras crianças. Antes de colocá-las na escola os pais devem conversar com seus filhos a fim de transmitir-lhes segurança e mostrar os benefícios e vantagens que o ambiente escolar oferece. Para isso é essencial que antes de matricular a criança na escola os pais procurem informações sobre as atividades desenvolvidas, metodologia de ensino, professores e outros meios que sejam satisfatórios a adequação da criança. É importante também que os pais levem seu filho para conhecer a escola antes de iniciar as aulas, para mostrar a eles as novidades, como: o parquinho, a sala de aula e os locais da escola que ele irá freqüentar, além de conversar muito sobre as coisas boas que ela irá fazer na escola. É importante também mostrar a farda a lancheira e os materiais escolares que ele irá usar. No primeiro volume do referencial curricular nacional para a educação infantil, encontramos uma passagem que aborda algumas reações negativas que podem ocorrer durante a fase de adaptação na escola.
Algumas crianças podem apresentar comportamentos diferentes daqueles que normalmente revelam em seu ambiente familiar, como alterações de apetite; retorno às fases anteriores do desenvolvimento (voltar a urinar ou evacuar na roupa, por exemplo). Podem, também, adoecer, isolar-se dos demais e criar dependência de um brinquedo, da chupeta ou de um paninho. (MEC/SEF, 1998, p.80).

Na entrevista de matricula os pais devem aproveitar para conhecer os professores, o tipo de atendimento e educação oferecida, além de apresentar a criança ao professor, contando sobre seus hábitos, para que ele estabeleça um primeiro contato com a família. É necessário também colocar a criança na escola em faixa etária adequada, pois o atraso poderá acarretar problemas na socialização e dificuldades de acompanhamento, segundo o artigo nº 29 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional a educação infantil atende crianças até seis anos de idade, durante essa fase da vida a criança começa a desenvolver seus aspectos psícomotores e sociais.
Educação infantil, primeira etapa da educação básica tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (LDB, 1996, art.29)

O estado tem o dever de oferecer educação gratuita a todos e a família tem obrigação de inserir seus filhos na escola é o que diz a o artigo nº 205 cap. III da Constituição Federal.

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (CONSTITUIÇÃO, 1988, art. 205, p. 134)

Escolher o horário adequado também constitui quesito importante em sua adaptação, deve-se analisar o horário que melhor se adeque a suas necessidades. É comum ocorrer certo nervosismo e ansiedade dos pais no período que antecede o inicio das aulas isso ocorre geralmente devido a insegurança da separação, do medo em deixá-los na companhia de pessoas desconhecidos e algumas vezes sentem-se ameaçados em perder o amor dos filhos ou terem que dividi-lo com os outros. Em outros casos ocorre descuido ou falta de conhecimento dos pais no que diz respeito à educação dos filhos, o apego excessivo e medo de conceder independência levam os pais a cometer um grave erro no processo de educação dos filhos, crianças criadas dessa forma desenvolvem medo em socializar-se, adquirindo assim problemas que podem prolongar-se por toda a vida.


03. INTERAÇÃO COM OS PROFESSORES.

Os professores são os mediadores da convivência entre as crianças e da interação com o ambiente escolar. É importante que ele esteja preparado para receber a criança de forma a estabelecer uma relação afetiva de confiança, amizade e cooperação, são eles quem exercerão na escola o papel que os país exercem em casa.
Os primeiros dias de aula geralmente são muito cansativos, tanto para os professores quanto para as crianças, e isso requer muita segurança e auto controle, principalmente para superar a fase do choro, pois quando uma criança chora as outras se sentem inseguras e também começam a chorar, nesse momento os pais devem confiar na capacidade e conhecimento que os professores possuem para lidar com a situação e também deve entender o choro do seu filho como algo natural para sua adaptação e que com o tempo tende a diminuir até desaparecer. Nos primeiros dias de aula ao lhe dar com essa situação os professores devem direcionar uma atenção especial àquelas crianças que possuem mais dificuldades de adaptação, pegando-a no colo e sugerindo alguma atividade interessante, a fim de evitar conseqüências de interação, segundo Michael Zlotowicz, autor do livro: Os medos infantis, após os momentos de choro e gritos a criança pode manifestar momentos de isolação e afastamento das outras crianças.
Num primeiro tempo, a criança não é senão protesto veemente, gritos, choros, e reivindicações. Em seguida, ao fim de algumas horas ou de alguns dias, segundo a idade da criança e as circunstancias que precederam a separação, surge uma segunda fase, a que Bowlby e seus colaboradores chamaram desespero, em que a criança se mostra retraída, inativa e evita contato com os outros. (ZLOTOWICZ, 1976, p. 42).

Na citação abaixo a professora Millie Almy, Columbia University, New York, destaca a importância do professor na compreensão da criança e assistência prestada a elas nos momentos de aflição e angustia.
O professor pode também conhecer os tipos de expressão que são própios para revelar os sinais de aflição e angustia. Quando estes sinais são notados pelo professor, e principalmente quando forme evidentes os sinais de preocupação na criança no contacto diário, o professor deve estar atento ás possibilidades que ele possa ter de prestar um auxílio além daquilo que ela possa fazer em classe por estas crianças. (ALMY, 1964, p.175).

Para elaborar a recepção da criança os professores devem planejar, juntamente com o coordenador e os pais, uma ação pedagógica a ser aplicada, é importante que ele utilize brinquedos que possa chamar sua atenção no momento de sua acolhida, a utilização de recursos como brincadeiras e livros amplamente ilustrados contribuem para chamar a atenção e diminuir a tensão emocional. Os professores possuem a incrível missão de controlar e transmitir confiança às crianças. Para lidar com uma situação como esta é necessário que ele esteja emocionalmente preparado e goste do que está fazendo, na procura de entender os pequeninos é interessante utilizar-se de estratégias específicas, é o que diz o professor do Instituto Teológico Pio XI, Padre Dr. Carlos Leôncio, ¨Já escreveu alguém que para educar crianças, é preciso de certo modo tornar-se criança¨. (LEÔNCIO, 1940, p. 32). Ao adquirir confiança e afeto da criança o educador desenvolve sua auto estima, tornando-a mais criativa e hábil. Esse vínculo estabelecido em sala permite ao professor desenvolver sua missão com mais eficácia, facilitando assim o aprendizado.


04. O AMBIENTE ESCOLAR

Ao ver a escola pela primeira vez a criança se surpreende e isso pode causar-lhe uma boa ou má impressão do ambiente, e consequentemente das pessoas que estão lá, por esse motivo a instituição de educação infantil deve estar sempre organizada e preparada para despertar na criança o encantamento, através da observação e vivencia do mundo lúdico, onde o faz de conta pode transformar-se em realidade para elas.
As paredes devem estar sempre pintadas com cores leves e a mobília deve ser colorida e adaptada à altura da criança, para permitir uma maior autonomia e independência, além de possuir muitas figuras e pinturas. As salas de aula precisam estar sempre equipadas com brinquedos jogos e livros de estórias, variedade de brinquedos adequados também são necessários para estimular as crianças é o que diz o Referencial Curricular Nacional para educação infantil. ¨É importante planejar a inclusão de brinquedos para diferentes fai¬xas etárias, brinquedos que estimulem diferentes usos e atividades¨ (MEC/SEB , 2006, p. 27). O Referencial Curricular Nacional ainda destaca também a importância de um parquinho na instituição de educação infantil.

A valorização dos espaços de recreação e vivência vai incrementar a interação das crianças, a partir do desenvolvimento de jogos, brincadeiras e atividades coletivas, além de propiciar uma leitura do mundo com base no conhecimento do meio ambiente imediato. O próprio reconhecimento da criança de seu corpo (suas propor¬ções, possibilidades e movimento) poderá ser refinado pela rela¬ção com o mundo exterior. (MEC/SEB, 2006, p. 26-27)

Com um ambiente preparado, o processo de adaptação escolar torna-se mais rápido e fácil, o professor consegue desempenhar melhor sua tarefa enquanto a criança se sente mais segura e assim desenvolve melhor sua capacidade de socialização.


05. CONSIDERAÇÔES FINAIS

Pretendeu-se nesse trabalho abordar temas polêmicos da educação infantil, que servirão como base de estudo das questões referentes ao desenvolvimento social da criança, no período de adaptação na escola. A pesquisa foi realizada mediante consultas a diversas fontes bibliográficas e observações in lócus do dia-a-dia das crianças e professores da educação infantil.
O papel da família, dos professores e da comunidade na preparação da criança para o início da vida escolar recebeu atenção importante no desenvolvimento do trabalho. Problemas enfrentados pelos pais no momento da separação e o papel do professor na mediação dessa fase, também foram destaque na pesquisa realizada.
Dessa forma, esse trabalho apresenta uma breve discussão do tema referente à adaptação escolar na educação infantil e poderá ser utilizado como referencial base para o leitor que apresenta interesse no assunto.
Sugerimos que o referido trabalho também seja utilizado como base de apoio aos professores da educação infantil, famílias que possuem crianças em idade escolar ou ainda pessoas interessadas no assunto, pois contém informações importantes para quem enfrentam situações como as apresentadas no texto acima ou que sentem dificuldades para lhe dar com a questão da adaptação escolar na educação infantil.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALMY, Millie. CUNNINGHAM. Ruth. Como estudar a criança: um manual apara o professor. 1 ed. USAID, Rio de Janeiro. 1964. 268 p.


BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, ev.:il.


BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros básicos de infra-estrutura para instituições de educação infantil. Brasília : MEC,SEB, 2006.45 p. : il.


BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil: promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 52/2006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94.- Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2006. 448 p.


BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei n° 9.394 Brasília, 20 de dezembro de 1996.


RUTH, Rocha. Mini dicionário. São Paulo, Scipione, 1996, 1 v.


SAVALLI, Elaine; ROCHA, Marcia; Discutindo a Adaptação Escolar: Um caso a ser vivenciado. Revista Nova, Rio Grande do Norte, v. 2, p. 1-7, disponível em: http://mail.falnatal.com.br:8080/revista_nova/a3_v2/artigo_0.pdf . Acesso em: 01 abril 2008.


.ZLOTOWICZ, Michel. Os medos infantis. Presses Universitaires de France, 1 ed., Paris, 1974, 182 p.



*Jonas Klébio Landim Santana é cadêmico do curso de pedagogia da Universidade Regional do Cariri, Secretário do Instituto Monsenhor Pedro Rocha e Coordenador Pedagógico de educação infantil.

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